O céu estava nublado,
O vento soprava gelado,
No cimo do Cabo Carvoeiro,
Via o mar bater na rocha revoltado.
A chuva batia-me no rosto,
As Berlengas mal avistava,
E a minha mente pensava,
Como a minha
fragilidade aquele mar atravessava.
Na doca de Peniche,
Pequenos kayaks preparam-se para partir,
E eu mais a minha paralisia cerebral,
Num deles estava p’ra ir.
Entrei e pensei…,
Loucura enfrentar o mar,
Pois minhas mão mal tinham força,
Para num talher pegar.
Nem sequer tão pouco,
Conseguia os movimentos coordenar,
Mas a minha voz interior,
À consciência veio sussurrar.
A tua fé e querer,
Não te irão abandonar,
Por mais difícil que pareça,
Este mar vais atravessar.
O medo foi desaparecendo,
Com o ritimo do pagaiar,
Devagar…, devagarinho,
Via a Berlenga se aproximar.
Para trás ficaram milhas,
Ondas que me molharam,
Muitos barcos com turistas,
E num kayak de dois,
Lá seguia eu e o Luís,
Quase a chegar à Berlenga,
Ia brincando o grupo feliz.
Finalmente entrei num estreito,
Onde a água era cristalina,
Avistei uma praia,
E atraquei na Marina.
Não há avaliação,
Para descrever o sentimento,
Que senti no coração,
Naquele inesquecível momento.
Foi com a
contemplação,
Misturada com a emoção,
Que mostrou à minha alma,
Para vencer é preciso reacção.
Desci do kayak,
A terra da Berlenga pisei,
Dure o tempo que durar,
Esse momento nunca esquecerei.
Conheci a ilha toda,
Muitos trilhos percorri,
Subi degraus gastos pelo tempo,
No cimo a beleza contemplei,
O ar puro respirei,
Pelo meio de ninhos de gaivotas passei,
Com o piar das cagarras me fascinei.
O dia parecia não querer ter fim,
O farol na minha frente vi,
E de o ir visitar por dentro,
Também não resisti.
Não dei conta,
Aos degraus que subi,
No cimo não consigo,
Descrever as emoções que vivi.
Via o mar a perder de vista,
Como um pássaro no céu a planar,
Pertencia à natureza,
Obra que Deus conseguiu criar.
Vi todos os recantos,
Daquele lugar de encantos,
Sai e entrei por grutas,
Onde se escondem encantos.
Voltei a Peniche,
Com o meu amigo Luís Carneiro,
Hoje não sei se sonhei,
Que andei por baixo do Cabo Carvoeiro.
E assim a natureza,
À quele frágil corpo mostrou,
Que aquele imenso mar,
Sua fé atravessou.
Poema de Carla Ferreira